14/02/08 - Maurício Tizumba realiza turnê nacional em comemoração aos 35 anos de carreira

Há mais de 300 anos o tambor mineiro entoa a crença e o jeito de viver e ser de povos de diversas regiões das Minas Gerais, através da tradição do congado. Um dos principais responsáveis pela divulgação dessa cultura na musicalidade brasileira é o multiartista Maurício Tizumba, que em 2008 celebra 35 anos de carreira, dos recém completos 50 de idade.

Para celebrar essa marca, Tizumba inicia no próximo dia 21 (quinta-feira), na cidade de Mariana, a turnê “Maurício Tizumba Pelo Brasil”, em que realizará ao todo 15 shows, acompanhado pelas cantoras e percussionistas Raquel Coutinho, Beth Leivas e Danuza Menezes. No repertório, Tizumba passeia pelos seus 35 anos de música com a releitura de “Camelô de Farol”, canção presente no disco “Cara e Caretas” - vinil gravado em 1991 -, sucessos como “Sá Rainha” e “Maurice a Paris”, a inédita “Almanaque Net” e “Querubim”, gravada no 2º CD do grupo TambOr Mineiro. “O que quero mostrar nesses shows é um apanhado de todos esses anos de minha carreira, mostrando um artista mais maduro, que durante todo esse tempo teve sua musicalidade norteada pelo tambor mineiro, que pra mim representa a África em Minas Gerais e é um grande símbolo da cultura mineira”, revela Tizumba, que diz ainda que nos shows estarão presentes canções dos compositores Sérgio Pererê e Vander Lee. “São compositores que falam, cantam e escrevem coisas que eu gostaria de fazer. Além da amizade, são dois caras que têm uma capacidade de criação enorme”, acrescenta Tizumba, que garante que os improvisos habituais em suas apresentações farão também a alegria do público.

Na turnê, Maurício Tizumba se apresentará na capital mineira, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e cidades do interior de Minas, todos com entrada franca. A escolha da cidade de Mariana para abrir as apresentações não foi em vão. Mariana foi uma das principais cidades do ciclo do ouro em Minas Gerais, além de ser vizinha a Ouro Preto, antiga Vila Rica, considerada o berço do congado no século XVIII, quando Chico-Rei realizou a primeira Missa do Rosário.

Primeiros registros ao vivo

Durante todos esse anos, Maurício Tizumba fez da cultura popular sua bandeira, buscando garantir o acesso dos públicos mais diversos. Inúmeras foram as apresentações em praças, ruas e demais eventos gratuitos. Para a gravação do CD e DVD ao vivo, Tizumba fará show com o trio no Mercado Distrital do Cruzeiro em BH, no dia 4 de março, com entrada franca. “Mais do que registrar meu trabalho ao vivo com essa formação que me acompanha há dez anos, quero mostrar e falar das coisas de Belo Horizonte. Por isso, escolhi o mercado, um lugar popular, já que minha vida passa por um outro mercado - o Central -, onde trabalhei”, diz Maurício Tizumba. A gravação do DVD será dentro do projeto “Música Afinada”, da TV Comunitária, que busca tornar expoente em audiovisual a produção de artistas mineiros.

Maurício Tizumba e Trio: irreverência e singularidade em sintonia no palco

Depois de já ter sido acompanhado por diversas formações de músicos nos trabalhos “Mozambique” (2003), “África Gerais” (1996), “Caras e Caretas” (1991, em vinil) e no compacto “Marasmo” (1981, vinil), Maurício Tizumba há cerca de dez anos se apresenta junto de um trio percussivo-vocal, em que as integrantes tocam instrumentos como caixas de folia, pandeiros e patangomes. Uma delas, a cantora e percussionista Raquel Coutinho, acredita que existe um ponto em comum entre elas para esse formato dar tão certo: “cada uma de nós, antes mesmo de pensar em tocar com o Tizumba, já era admiradora do trabalho dele”. Para ela, “Tizumba é um cara difícil de definir por ser vários num só. Apesar de tocarmos juntos há um bom tempo, nunca executamos a mesma música da mesma maneira. O Tizumba tem uma magia que é dele, uma capacidade de improvisar e inovar que nos surpreende a todo tempo“, diz Raquel, que se considera um “afilhada musical” do artista.

35 anos de uma estrada repleta de sons e cenas

Nascido em Belo Horizonte, mas de família originária do interior mineiro, Maurício Tizumba diz que “cresceu ouvindo o tambor de congado no terreiro”. Nesses 35 anos de carreira, o artista criou um conjunto de obras que transita entre a música, teatro, tv e cinema, buscando sempre a valorização da cultura negra. Sua arte tem reconhecimento internacional. Em novembro de 2004, a convite do Instituto Brasil Itália (ABRIT), esteve em Milão para participar do evento “Orumila Zumbi”, divulgando a cultura negra existente no Brasil, tendo feito também apresentações em Paris, na celebração do “Ano do Brasil na França” (2005) e na Alemanha, na 18ª edição da Popkomm (2006), uma das maiores feiras de música da Europa.

Nos palcos, Tizumba fez diversos papéis. Um sucesso de crítica e público foi o espetáculo “Grande Othelo – Êta Moleque Bamba”, dirigido por André Paes Leme, que retratou e prestou homenagem a este grande ator mineiro, um negro precursor nos palcos e telas do Brasil. Já a peça infantil “A Turma do Pererê”, de Tim Rescala, abordou a obra do escritor e cartunista Ziraldo, vista por um público recorde de mais de 18 mil espectadores. Em 1996, o artista fundou a Cia. Burlantins, que montou espetáculos cênico-musicais como “O homem da gravata florida”, a premiada opereta “O homem que sabia português”, com direção de Chico Pelúcio, e o mais recente “A Zeropéia”, baseada na história homônima e mais “A Centopéia que pensava” e “A Centopéia que sonhava”, escritas pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. A montagem teve direção da atriz e cineasta Carla Camurati, que atuou na primeira fase do trabalho. Atualmente, Tizumba integra o elenco do musical “Besouro Cordão de Ouro”, dirigido por João das Neves, apresentado no 4º Festival de Arte Negra (FAN 2007) e que faz temporada em São Paulo até março e depois segue para Curitiba.

Entre tantos trabalhos em produções cinematográficas, Maurício Tizumba participou dos filmes “Uma Onda no Ar” (2002), “Pequenas Histórias” (2007) e “Batismo de Sangue” (2007), dirigidos por Helvécio Ratton, e ainda em “Narradores de Javé” (2003), de Eliane Caffé, “Vinho de Rosas” (2004), de Elza Cataldo, e o curta biográfico “Eu Sou Assim – Wilson Batista” (2007), premiado pelo júri popular no Festival de Brasília. Na televisão, interpretou o palhaço Benjamim na série “Herói de Todo Mundo”, exibida pelo Canal Futura (RJ) e que mostrou heróis negros que romperam barreiras e lutaram por uma vida melhor para o povo brasileiro.

Preocupado com a valorização das tradições culturais negras de Minas Gerais, Maurício Tizumba criou, em 2002, o curso “TambOr Mineiro”. Nele, ensina a história e construção dos tambores, ritmos, cânticos e passos da dança do Congado. O curso resultou também na fundação da associação cultural e do Grupo TambOr Mineiro, que tem se apresentado em diversos eventos culturais em Minas Gerais e já gravou dois CD’s.

Serviço

Show Maurício Tizumba Pelo Brasil – em Mariana
Data: 21 de fevereiro (quinta-feira), às 20h30
Local: Teatro SESI - Mariana (rua Frei Durão, 22, Centro, Mariana)
Informações: (31) 3557-1041 - Entrada franca

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